sábado, 30 de outubro de 2010

O casamento e o “viver junto”

(post motivado por uma conversa recente com um amigo recente e por um post que li hoje e para o qual vou colocar um link no final)
Nós ficamos noivos em Abril de 2008, compramos casa em Dezembro de 2008 e casamos em Setembro de 2009… e a casa ficou vazia até ao dia do nosso casamento.
A nossa noite de núpcias foi a primeira noite em que dormimos na nossa casa e assinalou o irmos viver juntos. Começamos a mudar as coisas na semana que antecedeu o nosso casamento e os nossos pais encarregaram-se de ir mudando o resto durante a nossa lua de mel. Para nós foi natural. Para muitos não.
Muita gente comenta que fizemos as coisas “à antiga” porque saímos de casa dos pais para casar e só entramos na nossa quando casados.
Muitos perguntam se não tinhamos medo que não funcionasse “porque namorar é uma coisa mas viver junto, estar juntos todos os dias, tratar das tarefas do dia-a-dia, é outra e traz outro desgaste à relação”. “Não era melhor terem ido viver juntos antes, para ver se funcionava?”
NÃO.
Antes de mais importa explicar que não temos argumentos racionais para decidir entre o casar e o viver juntos. Ainda pra mais com a lei a aproximar os deveres e direitos de uma união de facto a um casamento. Mas sabíamos os dois que queríamos casar, queríamos assumir a nossa união perante a família, os amigos, a sociedade em geral e a República Portuguesa (não somos religiosos, casamos pelo civil). Queríamos oficializar o facto de irmos começar uma família nossa. Que até podia ser só de nós os dois, mas era nossa. Portanto entre o viver juntos e o casar cedo decidimos casar sem grandes debates sobre o assunto – era vontade dos dois.
Cedo começaram também a aconselhar-nos a irmos viver juntos antes de casar, porque o que funcionava num namoro podia não funcionar numa relação mais a sério… e aqui é que a porca torce o rabo.
Faz-me confusão o “ir viver juntos antes de casar para ver se resulta”.
O casamento, tal como o ir viver juntos, é feito por pessoas, por duas pessoas (nem mais, nem menos). Funciona porque fazemos funcionar. Se esperarmos que funcione sozinho estamos tramados. Mas isto para mim é válido num casamento, no ir viver juntos, num namoro ou numa amizade: uma relação entre duas pessoas funciona porque a fazemos funcionar, porque nos esforçamos para que esta funcione.
Não se mantém um amigo só porque sim, mantém-se um amigo porque há um esforço de parte a parte para se conversar, saber notícias, ir tomar um cafézinho, passar um tempo juntos.
Da mesma maneira que não se mantém um namoro só porque sim, mantém-se um namoro porque a outra pessoa nos faz sentir amados e nós a fazemos sentir-se amada, porque há um esforço de parte a parte para conhecer a fundo o outro, partilhar não só os momentos felizes mas os medos e as preocupações, sonhar juntos, passar um tempo juntos.
Para mim o viver juntos ou o casamento só são diferentes se as pessoas o sentirem diferentes. É um compromisso igualmente sério para mim, é o assumir que é com aquela pessoa que queremos partilhar o resto da nossa vida, que ela será o nosso porto de abrigo nos momentos maus e que é com ela que partilharemos as nossas maiores alegrias porque sabemos que as sentirá da mesma maneira que nós as sentiremos. Porque temos objectivos em comum, porque estamos dispostos a trabalhar igualmente para que os nossos sonhos se realizem. A diferença é um papel assinado, um oficializar da coisa, que terá a importância que cada um lhe der.
Eu percebo o ir viver juntos. Só não percebo o “vamos casar, mas é melhor irmos viver juntos a ver se a coisa resulta”.
Diziam-me outro dia que estranhavam eu ser tão racional para tudo e que no casamento era tão… “romântica”…
Eu sou racional para tudo. Sou pragmática. Um casamento funciona se nos esforçarmos para que funcione, não há ir viver juntos para ver se a coisa resulta porque se ambos quisermos a coisa não tem outro remédio se não resultar. Porque a coisa somos nós, os dois, juntos. E depende apenas da vontade de que resulte, da nossa vontade de que resulte. Se nós queríamos casar, porquê o período de experiência? Há medo de que o outro não se empenhe tanto como nós? Se há medo então se calhar não é a altura certa para dar esse passo… seja ele viver juntos ou casar…
Posso ser nova, ter um casamento recente, estar apaixonada e dizerem-me que ainda não sei nada da vida… não tenho a pretensão de manter as minhas convicções inalteráveis, até porque seria idiotice não aprender à medida que vou vivendo… mas estas convicções são hoje fortes em mim: um divórcio chega quando algum (talvez muito) tempo antes uma das partes (ou até ambas) deixou de achar que valia a pena fazer o casamento funcionar. Deixou andar, deixou de se esforçar e ficou à espera que o casamento funcionasse sozinho.
Uma relação funciona se ambos se esforçarem para que ela funcione. O viver junto antes de casar pode querer dizer que as partes não estão dispostas a fazer grande esforço para que a coisa funcione, e querem ver se funciona sozinho… não sei… sei que para mim não faz sentido, porque se queremos casar temos de nos esforçar para que o casamento funcione… e então não faz sentido período de experiência nenhum… estamos all-in.
E é por isto que adorei um post que li hoje, em que se usa a metáfora de tratar de um filho para tratar de um casamento.
Leiam no Público.
Disclaimer: não reli o post antes de o postar, porque gosto da coisa assim… natural como se fosse um discurso falado e não demasiado pensado.
E aqui tenho de agradecer aos meus Pais o terem-me deixado testemunhar um verdadeiro casamento e nunca terem desistido da coisa mesmo nos momentos em que era preciso mais esforço.
E aqui tenho de ter pena de que uma língua tão rica como o português não faça a distinção são simples no inglês entre um Wedding e um Marriage. Porque há muita gente que acha que o casamento é o wedding… em vez de o considerar um marriage.